sábado, 19 de novembro de 2011

Cicatrizes e fendas



Ando pelas mesmas ruas levado por mecânicos passos.
Pego a condução, me ponho a maquiar o cansaço;
me reconheço em pedaços deixados pelo chão.
Cicatrizes e fendas – minh’alma despedaçada.
Vestígios e rastros deixados propositalmente
para que me sigas... Para que não digas
somente as mentiras que acalentam meu coração.
Cicatrizes e fendas – cigarro apagado, copo vazio...
Com as vestes em trapos;
despido de qualquer inocência
e se não houver coerência, que me dêem o perdão.
Pois vou pelas ruas que aos meus olhos são vazias
como se não houvessem pedras, nem semáforos...
Tudo é espaço do espaço do que outrora
em meu peito pulsava e sangrava – nossa canção.
Minha expressão vazia que o ri como se fosse alegria
a dor que deveras habita em mim.
Hoje minha expressão vazia dar-se-ia à lágrima há tempos presa
nessa tal represa chamada interpretação.
Ando pelas mesmas ruas levado por mecânicos passos;
me reconheço em pedaços...
Cicatrizes e fendas – e ainda queres que eu me ponha a sorrir.


"Uilton David"

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Feridas abertas



Olhei por sobre as pedras,
onde eu quase nunca ia;
notei então um eco solo
e a solidão em mim doía.
                  
Olhei por entre as fendas,
em cada brecha a dor bravia;
notei então estar sangrando
e tudo quanto em mim sofria.

Olhei bem mais de perto,
pra ter certeza do que eu via;
parte de mim ali morrendo
e a outra parte resistia.

"Uilton David"