quarta-feira, 4 de julho de 2012

Como morrem os sonhos


Uma vez, há muito tempo, eu ouvi falar sobre as pessoas que têm sonhos. Disseram-me que são fascinantemente belas, disseram-me que seus olhos têm um brilho diferente. Talvez os sonhos deixem-nas mais vivas, ou talvez, os sonhos sejam a própria vida. Ouvi dizer também, que uma vez ou outra, elas se perdem de seus sonhos e cegamente percorrem caminhos tortos.
Talvez pelo fato de se acharem adultas, algumas delas, julgando-se até amadurecidas, acreditam-se crescidas demais para continuarem a acreditar em contos de fadas. Costumam chamar essas pessoas de “pessoas realistas”. Eu as chamo de “pessoas que perderam a fé”.
Jostein Gaarder nos disse em uma de suas obras, que quando chegamos ao mundo, somos como se estivéssemos nas pontas dos pelos de um coelho e, estando nas pontas dos pelos, tudo é novo; surpreendemo-nos com o que vemos, queremos tocar, chegar mais perto; queremos conhecer o novo e somos totalmente abertos às possibilidades. Então começamos a crescer e crescendo, o peso da realidade nos faz escorregar para o fundo da pelagem, construindo lá embaixo o que de certa forma, Gaarder chama de “cama do comodismo”... Outras pessoas vêm a chamar esse processo de construção da cama na pelugem macia de “manter-se com os pés no chão”, o que seria na verdade, deixar de se encantar com as coisas simples; não esperar que flores brotem no asfalto... Talvez isso explique de que forma morrem os sonhos, ou talvez não explique nada, porque nada é certo.
Fazendo uma análise da metáfora de Gaarder, chegamos à conclusão de que basicamente, quando deixamos os sonhos e começamos a percorrer os caminhos que achamos certos, estamos na verdade, percorrendo caminhos tortos que em nossas medíocres reflexões, julgamos serem os caminhos da racionalidade.
Do ponto de vista de alguém que ainda tem alguns sonhos loucos; de alguém que em sua meninice, ainda encontra algum sentido nos contos de fadas, digo-vos que, acreditar no que a maioria acredita ser impossível, é reconfortante diante de uma realidade pintada em tons de cinza...
Que aquele que se encontra nas pontas dos pelos do coelho, não desça; que o que já está descendo, torne a subir e que o que jaz acomodado na pelugem quentinha, apresse-se em ascender. Corra! Volte de pressa para os sonhos bobos que deixaste. Reencontre-se e encontre em si e nas coisas simples, o que a maioria dos homens morrem buscando... A felicidade.

"Uilton David Santos"

terça-feira, 3 de julho de 2012

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E assim, como num susto, nos damos conta de que o tempo passou. A vida tomou seu percurso como se seguisse, sem nem perceber, o leito do rio calmo e a perder de vista. Mas ainda olhamos para trás uma vez ou outra e tudo se foi, como as arvores que passam velozes pela janela do carro, nos dando a impressão de que não saímos do lugar, enquanto tudo em volta corre. Os dias são como milhas percorridas e, estamos cada vez mais perto do lugar para onde estamos indo... Que lugar é esse? Isso eu não sei ao certo. Isso cada um terá que descobrir sozinho. Talvez seja o tal paraíso prometido; um recanto do Éden, uma estrela. Talvez esse lugar seja mesmo dividido por cores, e classes, e crenças, e sexo... Ou talvez, do lado de lá, sejamos apenas humanos.



"Uilton David Santos"