segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Maquiagem


Se olhares um pouco mais de perto,
verás o que sangra sob a máscara escura;
verás rosas negras cobrindo um deserto
e todo o sofrer que há tanto perdura.

Porque na verdade todos sofremos,
trazemos as chagas abertas sangrando,
mas sob curativos as escondemos;
maquiamos a dor para continuarmos andando;

sem nunca parar e nunca paramos,
negando as lágrimas que caem no escuro,
quando ás escondidas em silêncio choramos;

para jamais confessar que no fundo esperamos
alguém que nos traga flores
e veja além da máscara que sempre ostentamos.

"Uilton David"

domingo, 27 de fevereiro de 2011

Simplesmente amor (Simplesmente assim)


E qual forma de amar seria errada?
E qual amor lhe parece o incorreto?
E se olhar de perto? E se chegar ao nada?

Qual conceito lhe seria assim perfeito
em tudo que se tem, se não houvesse o medo?
E se eu amasse? E se me escutasses?

Se escutasses não somente a mim,
mas o que há lá fora? E se chegasse a hora?
E se não houvesse o fim?

E se eu então jurasse diante de ti
simplesmente e tão somente amar,
sem sequer explicar o que há em mim?

E se fosse amor seria assim,
seguindo conceitos de certo, incorreto,
pecado em segredo?

Não!
Definitivamente não!

Pois não há amor que se possa escolher,
nem tal escolha que se possa fazer...
diante de ti amor sem medo,
não há segredo que se tema saber.

Então, se lhe falasse assim,
colocando de lado conceitos,
diante de ti coração,
na utopia de um nada...

qual forma de amar seria errada?

"Uilton David"


sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Tempo


O tempo...

O tempo lá fora
não para, não espera,
não traz de volta quem eu era,
mas me leva adiante...

E ainda que eu não queira,
que eu relute,
que eu não pare e escute,
o tempo me mostra;

num reflexo, num espelho...
Às vezes na dor,
então vejo quem sou,
eu ainda sangro.

O tempo lá fora
me fez esquecer aos pouquinhos,
o que deixei pelo caminho
e trouxe flores novas;

o tempo levou embora,
levou como nas ondas do mar,
a oferenda que eu não quis entregar,
mas que eu deixei partir.

Porque o tempo lá fora
não para, não espera,
não traz de volta quem eu era,
mas me leva adiante...

E quem sabe,
um pouco mais crescido.

"Uilton David"

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

A morte do cisne


Depois de cruzares tantos céus,
depois de tanto teres voado,
voltastes às primeiras lembranças,
viestes descansar ao meu lado.

O inverno te levou pra longe
e o frio te afastou daqui,
mas agora que estás de volta,
viestes descansar enfim.

Viestes para o último voo,
o último canto triste;
uma canção banhada em lágrimas
do choro mais belo que existe.

O pranto do cisne negro,
a vida ali terminada
num suspiro profundo e funesto.
Apenas isso e mais nada.

"Uilton David"

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Canção do amigo

Antigo sentir há tempos deixado,
maldito de mim por ter-te amado
e num sono funesto tê-lo perdido.

Antiga lágrima há tempos rolada
sobre ti, anjo ali de voz tão calada,
sem nada dizer do que havia sentido.

Antiga culpa sentida em minh'alma,
a lâmina fria em teus pulsos - a calma;
deixando-me só, eu perdia um amigo.

Antiga saudade outrora esquecida
e trazida de volta, em mim revivida,
lembrando-me o sol que levaste contigo.

Antiga ausência no calor do abraço
de quem foi embora por tanto cansaço
e hoje um vazio jamais preenchido.

Antiga cantiga já não mais cantada
depois da partida, no entanto guardada
dentro de mim - não serás esquecido.
"Uilton David"

Ao boiadeiro da minha infância

(Para vovô Inácio)


Lá bem longe, bem distante,
bem ao pé daquela serra,
escuta-se um canto triste
que não parece dessa terra.

Um canto de despedida,
o boiadeiro que vai embora,
na sela do seu cavalo,
um coração sangrado à esporas.

Vai cantando ao seu gado,
uma canção que escuto e choro,
no berrante vai penoso
- e ao teu encontro não demoro.

Hei de ver-te como eras,
e o chapéu que não tiravas,
então iremos á velha cerca
que na infância me levavas.

Perguntarei as mesmas coisas
e me contarás mais uma história;
te direi que ainda espero,
ainda o tenho na memória.

Me deixastes muito cedo
e desde cedo eu já sentia,
que cresceria na tua ausência
e sem teu colo eu viveria.

Faz muito tempo que não o vejo
e ainda lembro da partida,
lembro o que era o teu sorriso
e a dor que foi a despedida...

Lá bem longe, bem distante,
bem ao pé daquela serra,
escuta-se um canto triste
que não parece dessa terra.

Trilha sonora da minha vida,
meu boiadeiro que foi embora,
na sela do seu cavalo
- meu coração que ainda chora.

"Uilton David"

Uma história de tantas vidas


  (Vencedor do concurso Norte Tocantinense de poesia)

Somos partes de uma história
feita de tantas histórias,
de tantos feitos,
de virtudes e defeitos;
de gente de verdade.
Histórias começadas,
algumas terminadas;
amores vividos e sonhados,
perdidos e encontrados;
apenas histórias.
Somos partes de um enredo,
de um roteiro sem ensaios,
onde houveram erros,
cortes inesperados,
atores convidados
e tantos protagonistas.
Nossas histórias,
algumas não contadas,
omitidas, dissimuladas;
até mesmo as esquecidas
algum dia serão lembradas,
em algum momento,
quando houver platéia,
para a grande estréia
de uma vida reescrita,
recomeçada, reconstruída
de onde não havia nada;
uma história reinventada,
sem vestígio algum da peça antiga,
das lágrimas roladas;
e que outras venham a rolar,
que continuemos a interpretar
cada dia e cada ato
como se fosse o último,
porque o tempo passa
e a cortina se fecha;
então ao terminar e a luz apagar,
que sejamos lembrados;
que os amores vividos e sonhados,
até os que foram perdidos,
conosco sejam levados;
contados e sentidos
pela eternidade,
em nossas memórias,
inspirando outras histórias
tão bonitas quanto a nossa.
Que possamos olhar para trás, relembrar
e sem dúvida alguma acreditar
que a existência tenha valido a pena.

"Uilton David"

Os caminhos de Eva


De onde vens não sei;
tu, outrora calada,
por vezes em pranto
e agora, assim por encanto
és dona da história.

Viestes junto a mim
vestida em fragilidade
e sem que eu soubesse,
ou até me opusesse,
tomou-me com a tua verdade;

pois desde o inicio
tens estado aqui
- em mim, por fim,
desde Eva na terra
os teus caminhos tem sido assim.

Tens te sacrificado,
o teu sangue tens dado,
para que outras de vós
pudessem ter voz
nesse enredo cantado.

Tu, luz dos meus dias,
que já não te chamas só Eva;
mas também Maria;
dentre tantos nomes teus,
qual deles eu escolheria?

Escolher-te-ia assim,
anjo doce, como bem quer,
porque dentre Evas e Marias,
pelo bem que me farias,
todas sois assim mulher.

De onde vens não sei
e talvez não me caiba assim saber
- que me caiba apenas te amar
sem relutar,
sem explicar porquê. 


"Uilton David"